Como esperar
sonhos
de quem vive em pesadelo?
No frio, a rua vazia
não tem graça, romance e poesia.
A rua gelada é fria.
Ventos como facas
que rasgam a carne
sangram papelões
e cobertores.
Na rua também tem
amigos e amores.
- Tem até sorrisos!
Esquecidos
dos passos sofridos,
dissimulados
pelo torpor.
"- E aí,
coroa!
Licença aqui, senhor
Me dá um cigarro?
Prum trago, que engasgo.
É muita fumaça de carro!
O tráfego sobe a rua
e em sua esquina
eu sou neblina.
Passo o pano
por sustento
e às vezes apanho
detento
mas não alento,
pois se vivo esquecido,
esqueço pra viver..."
Bora pensar
desamor?
Sim, Doutor.
O mundo está muito além
do seu escritório
e do seu saber
notório.
O mundo que dizem
azul
vê-se cinza.
Trabalhadores
no dia-a-dia
como lutadores
de esgrima.
Não existe:
"- Eu quero ser;
preciso vencer."
Mas:
"- Tenho que ser;
preciso comer."
Como olhar o céu?
Se, com tantas pancadas da vida,
a cabeça cisma em mirar o chão...
Como esperar
sonhos?
Como esperar sonhos?