segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Toda Lágrima Salgada


Quando alguém chora
todos choram

Nem sempre
pela mesma causa

Mas com a mesma
lágrima

salgada.

Todos devem ter
sua dor
respeitada!

Afinal
de diferente
temos apenas
particularidades

que não são
iguais
mas são
verdades.

sábado, 30 de abril de 2016

Ás Vezes Sempre

Ás vezes

a vida
que se não ilumina

que sê fome diária

que não mais acredita

Ás vezes tapa
humilhação
escárnio
decepção

Ás vezes cala
pra não perecer

Ás vezes esmola
quando a fome doer

Ás vezes
seu nome
ela não sabe ler
na terra de sábios
a se prevalecerem

sem teto
com ódio
tristeza
um ópio...

Não sabe,
ao certo,
medir as vezes

Ás vezes muito,
tem vez
que sempre

Tem vez que sempre!

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Quer Sonhos?


Como esperar sonhos
de quem vive em pesadelo?

No frio, a rua vazia
não tem graça, romance e poesia.

A rua gelada é fria.

Ventos como facas 
que rasgam a carne
sangram papelões
e cobertores.

Na rua também tem
amigos e amores.

- Tem até sorrisos!

Esquecidos
dos passos sofridos,
dissimulados
pelo torpor.

"- E aí, coroa!
Licença aqui, senhor
Me dá um cigarro?
Prum trago, que engasgo.
É muita fumaça de carro!
O tráfego sobe a rua
e em sua esquina
eu sou neblina.
Passo o pano
por sustento
e às vezes apanho
detento
mas não alento,
pois se vivo esquecido,
esqueço pra viver..."

Bora pensar desamor?

Sim, Doutor.

O mundo está muito além
do seu escritório
e do seu saber
notório.

O mundo que dizem
azul
vê-se cinza.

Trabalhadores
no dia-a-dia
como lutadores
de esgrima.

Não existe:
"- Eu quero ser;
preciso vencer."
Mas:
"- Tenho que ser;
preciso comer."

Como olhar o céu?

Se, com tantas pancadas da vida,
a cabeça cisma em mirar o chão...

Como esperar sonhos?

Como esperar sonhos?

domingo, 20 de março de 2016

Terceira Margem

Estou na
terceira margem
do rio
Não tenho
meu peito
vazio

Profundo

Vertical

Poético

Existir
deveria ser
mais belo...

Não trocar agressões
pois um
veste vermelho
e outro
usa terno

Estou
na terceira margem
pois não sou
massificado
alienado
manipulado

Se
não houver
troca
entre
os divergentes
como esperar
a metamorfose
social?

Como gerar
o bom reflexo
no espelho
se na vida
só semeia-se
o mal?

_

(escrita no processo Poesia Cênica Conjugada, no encontro entre os grupos Teatro do Incêndio e Redimunho de Investigações Teatrais . Obra de estímulo: A Terceira Margem do Rio, Guimarães Rosa)

domingo, 13 de março de 2016

Interrogação

Eu já disse coisas
pra me convencer
Já descobri
em meus gestos
mil modos de ser

Absorvo a vida
submerjo profundo
Buscando das raízes
sorver o liame
do mundo

Escuso

Autônomo

Instante ser
procura aprender
o ser
antes de pertencer

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Existir


Das naus
ouve-se o timbre
do urro:
- EIA!

Surge do mar
sua faixa de areia

De certo
com os pés
afundados
nos finos
grânulos
do mar
o deserto;

nas redes
sobre as árvores
recostadas...

Da vida
faz-se o sentido
simples
como o verde
de folhas
amontoadas

Não existe estrada
pra que se possa
percorrer

Não existe tempo
pra que se consiga
perder

Nada criamos
sem transformar

Nada é certo
além do AGORA

Assim como do céu
a garoa prisma
em pedaços
da lua o brilho

E a mata se cala
quando do vento
vem o grito

Sonhar
é excluso

Existir
é pó
sob o tapete