sábado, 30 de abril de 2016

Ás Vezes Sempre

Ás vezes

a vida
que se não ilumina

que sê fome diária

que não mais acredita

Ás vezes tapa
humilhação
escárnio
decepção

Ás vezes cala
pra não perecer

Ás vezes esmola
quando a fome doer

Ás vezes
seu nome
ela não sabe ler
na terra de sábios
a se prevalecerem

sem teto
com ódio
tristeza
um ópio...

Não sabe,
ao certo,
medir as vezes

Ás vezes muito,
tem vez
que sempre

Tem vez que sempre!

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Quer Sonhos?


Como esperar sonhos
de quem vive em pesadelo?

No frio, a rua vazia
não tem graça, romance e poesia.

A rua gelada é fria.

Ventos como facas 
que rasgam a carne
sangram papelões
e cobertores.

Na rua também tem
amigos e amores.

- Tem até sorrisos!

Esquecidos
dos passos sofridos,
dissimulados
pelo torpor.

"- E aí, coroa!
Licença aqui, senhor
Me dá um cigarro?
Prum trago, que engasgo.
É muita fumaça de carro!
O tráfego sobe a rua
e em sua esquina
eu sou neblina.
Passo o pano
por sustento
e às vezes apanho
detento
mas não alento,
pois se vivo esquecido,
esqueço pra viver..."

Bora pensar desamor?

Sim, Doutor.

O mundo está muito além
do seu escritório
e do seu saber
notório.

O mundo que dizem
azul
vê-se cinza.

Trabalhadores
no dia-a-dia
como lutadores
de esgrima.

Não existe:
"- Eu quero ser;
preciso vencer."
Mas:
"- Tenho que ser;
preciso comer."

Como olhar o céu?

Se, com tantas pancadas da vida,
a cabeça cisma em mirar o chão...

Como esperar sonhos?

Como esperar sonhos?